No dia 31 de Janeiro acordei à hora do costume, 9h30. Dormi a noite toda e nem acordei para ir à casa de banho como era hábito desde que engravidei. Não tinha dores, apenas uma contração ligeira na barriga mas nada de muito diferente do dia anterior.Tomei o pequeno almoço calmamente e a meio da manhã comecei a sentir contrações mais fortes e menos espaçadas.Comecei a contar o tempo de cada contração e a duração de cada uma. Continuava sem dores mas por precaução, a seguir ao almoço fui à maternidade.
Cheguei às urgências por volta das 15h e fui logo logo atendida. Na triagem, apanhei uma enfermeira não muito simpática que achou que tinha ido ali só porque sim. Perguntou-me como quem não quer a coisa: "está a chover lá fora?", eu respondi que sim e que estava imenso frio. Ela pergunta: "então o que está aqui a fazer?". Apeteceu-me responder-lhe: "olhe, sinceramente não tinha nada mais interessante para fazer em casa e então decidi vir aqui passar a tarde consigo" mas fui bem educada e expliquei-lhe que estava com contrações, com dores, blablabla. Esta enfermeira engoliu tudo o que disse e a forma como falou inicialmente comigo quando viu no CTG que já estava com contrações gigantes e com um intervalo muito curto entre elas. Disse logo que tinha feito muito bem em ir à maternidade e encaminhou-me de imediato para um gabinete médico.
Entrei no gabinete e fui atendida por um médico muito novinho e muito simpático. Viu o CTG e fez o toque. 3 dedos de dilatação. Disse para eu ir caminhar durante sensivelmente duas horas e quando voltasse para pedir para falar com ele, nem tinha de passar pela triagem novamente. Lá fui eu, gravidíssima andar pelo Saldanha com uma chuva torrencial e um frio de rachar.
Às 17h30 regressei à maternidade mas o médico que me tinha visto anteriormente estava a fazer um parto e por isso tive de esperar. Esperei na sala de espera até quase às 19h. Pelos vistos estavam muitos bebés a nascer e todos os médicos estavam ocupados.
Por esta altura já sentia algumas dores mas nada que não se aguentasse. Voltei a ser chamada para ser observada e desta vez fui vista por uma médica super querida que viu o meu último CTG e que me disse que eu era uma heroína por estar tão calma tendo em conta as minhas contrações. Não me deixou sair mais dali e disse para eu me preparar porque o bebé iria nascer em breve. Que emoção, senti que estava a chegar o momento mas ao mesmo tempo estava tão calma, tão zen... Parecia que tinha saído do meu corpo e que estava a ver as coisas acontecerem de outra perspectiva.
Levaram-me para uma sala para vestir a bata do hospital e preparar-me para o grande momento, não sabia se ia sofrer minutos, horas ou dias, era uma questão de "sorte". A enfermeira que me levou para essa sala era uma querida. Deixou-me completamente à vontade e disse que se eu quisesse tomar um banho para relaxar que poderia fazê-lo, disse para descontrair e que iria ter comigo dali a pouco tempo. Tomei um banho (curtinho porque não conseguia estar muito tempo em pé), vesti a bata (era linda por sinal -NOT) e chamei a enfermeira. Lá me levaram para a sala de partos e ali fiquei. Ligada ao CTG e à espera que algo acontecesse. Estava com o meu homem que ia vendo as contrações e que me ia dizendo o que via no ecrã. Nisto iam entrando enfermeiras, auxiliares que me iam perguntando se estava tudo bem e se queria levar epidural. Disse sempre que não (BURRAAAA) porque sinceramente não tinha grandes dores e pensei que era forte o suficiente para aguentar. A enfermeira que me ia vendo disse que ainda estava atrasado mas que estava tudo a correr normalmente.
A ultima vez que olhei para o relógio do ecrã do CTG eram 22h00 e pensei " o bebé já só vai nascer em Fevereiro, que bom. Vai nascer no mesmo mês que eu"....
De repente, do nada, sem qualquer aviso sinto uma dor como nunca tinha sentido na vida.
Meninas que vão ser mamãs por favor não leiam mais,obrigada.
Era uma dor agonizante, uma dor que nunca tinha sentido na vida e que não passava por nada. Não sabia o que era, porque é que estava a sentir aquilo. Pensei que era o saco das águas que tinha rebentado, pensei que algo estava a correr mal e comecei a chamar por alguém. Só queria que me dessem a epidural rapidamente para acabar com aquele sofrimento. Lá vem a enfermeira a correr e ficou em choque quando viu que o bebé ia nascer. Só dizia "mas como é que é possível?? Ainda há 5 minutos estive aqui e ainda estava tão atrasado! Como é que é possível?".
Entretanto chega a enfermeira parteira, Enfermeira Raquel, nunca me vou esquecer desta senhora, apesar de já não me lembrar da cara dela. Entrou no quarto, com uma voz super zen, explicou-me o que estava a acontecer e disse que o bebé ia nascer. Disse que como o bebé era muito pequeno tinha de me levar para o bloco operatório onde estaria uma equipa maior caso fosse necessária alguma intervenção urgente. BLOCO?? Disse BLOCO? Entrei em pânico ao pensar que podia ter de fazer uma cesariana mas não tive forças para perguntar, simplesmente deixei-me ir. Quando estava a entrar no bloco não deixaram o meu homem entrar, não tinha havido tempo para o preparar e fiquei ali, sozinha, aos berros, com uma dor aguda infinita.
Passados 5 minutos o meu bebé estava cá fora. Levaram-no logo para observação e o relógio marcava 22h36, afinal ainda nasceu em Janeiro. Depois de o ouvir chorar trouxeram-no até mim. Um bebé minúsculo, muito inchado, ainda muito sujo mas era a coisa mais querida deste mundo. E não, não senti aquela coisa que dizem que é super emocionante, que choram, que sentem mil emoções... Não, senti apenas alivio por já não sentir dores e senti que queria não ver ninguém. Senti que aquele bebé era meu e não queria que mais ninguém lhe tocasse. Estranho talvez, mas só passado alguns dias é que senti o "clique" e me apaixonei profundamente por aquele bebé, pelo meu filho.
Foi um parto muito fácil, devo dizer. Tive dores fortes no máximo 15 minutos e tudo correu lindamente. Nessa noite senti medo, estava na maternidade, num quarto com mais 7 mães e 7 bebés e eu estava sozinha sem saber muito bem se o bebé tinha fome, frio, calor, se tinha a fralda suja. Senti que estava sozinha mas o instinto é uma coisa que não se explica e eu naturalmente soube o que tinha de fazer.
Essa será para mim e para sempre a noite mais marcante de toda a minha vida.
Bia.
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