No dia 25 de Outubro, estava eu grávida de 22 semanas, fui então ao consultório do Dr. Álvaro Cohen (Med Mulher, para as interessadas) para fazer a ecografia morfologica. Estava muito, muito ansiosa. Sabia que até ali tudo estava a correr bem mas tinha receio que houvesse alguma alteração.
Para mal dos meus pecados (e da ansiedade também) o Dr. estava atrasado e tive de esperar mais de uma hora para ser atendida (agora percebo porque é que as consultas do Dr. Álvaro se atrasam e vou-vos explicar porquê mais à frente).
Chamou-me. Entrei, com algum nervosismo, mas ansiosa para poder ver o meu bebe outra vez. A sala estava escura e de facto o senhor foi de poucas palavras, cingindo-se ao essencial, fazendo perguntas breves e diretas.
Numa tentativa de quebrar o gelo disse-lhe que tinha ido lá por indicação de uma colega, disse inclusivamente o nome dela, ao que me respondeu: "ok". Ok, pensei eu! Percebi que não íamos ter uma conversa muito longa mas OK, o importante era saber se estava tudo bem com o bebe.
Lá começámos a ecografia e o Dr. Álvaro ia explicando tudo o que via: o coração, o estômago, os braços, as pernas, os pés, contámos todos os dedinhos e eis que ele diz que íamos ter um menino! Confesso que senti o mesmo que sentia quando estudava imenso para um teste e depois tinha um mísero "Satisfaz". Mas tudo bem, isso era o menos importante e iria ser um desafio gigante. O homem ficou louco e até já tinha imensos planos futebolísticos para o bebecas, enfim... homens!
Muito bem, uma hora depois, mais coisa menos coisa, o exame terminou. Estávamos super contentes porque aparentemente estava tudo lindamente. Enquanto acabava de me arranjar, o Dr. Álvaro diz-nos o seguinte (não consigo esquecer-me da cara dele e de todas as suas palavras:
- Cheguem aqui por favor, tenho de falar com vocês. Sentem-se.
O seu rosto não demonstrava qualquer sentimento ou expressão mas eu sentia que a mensagem não ia ser bonita. Também não esperava outra coisa uma vez que o tom monocórdico e direto com que falava pareceu-me que a entoação era a mesma ao dizer "está tudo bem" ou "está tudo mal".
O meu coração parou e senti um calafrio a subir-me pela espinha. Algo não estava bem, tinha a certeza.
- Estão a ver estes gráficos? (Sim estamos e então? Isso é chinês para nós. DESENVOLVA, SENHOR - pensei). Todos os valores estão abaixo da média, estamos perante um bebe muito pequeno e além disso observei um edema generalizado mas mais acentuado na zona da nuca e do tórax.
O mundo parou ali, o meu coração parou, o chão desapareceu. Pensei: nuca, translucência da nuca, trissomias, mal formações. Edema, edema, o que é um edema? O meu bebe não é perfeito? O que se passa???
- O que quer dizer isso Doutor? - Perguntei a medo.
- Bem, sem querer alarmar, podemos estar perante uma trissomia ou uma mal formação genética. O desenvolvimento do bebe não está a seguir o ritmo normal e por isso daqui a dois dias quero voltar a ver este bebe na maternidade na unidade de Diagnóstico Pré-Natal para reavaliar a situação. Caso o edema se mantenha vamos ter de fazer uma amniocentese para despistar algumas suspeitas.
SEM QUERER ALARMAR?? Você quase me diz que o meu bebe é deficiente e não quer alarmar?? Fiquei com tanta raiva naquele dia. Senti que o meu sonho podia acabar ali. E tinha tanto em que pensar, tinha provavelmente de tomar a decisão mais difícil da minha vida. Mas que m*rda de edema? Porque é que isso aconteceu? Porque é que isto me está a acontecer a mim?? Outra vez uma m*rda que me deixa sem chão? Não posso simplesmente ser feliz sem estes contratempos?
Cheguei a casa e chorei. Chorei até não ter mais lágrimas. Não dormi naquela noite nem na seguinte, li tudo o que encontrei na net sobre edemas, mal formações, trissomias e nada, nada me acalmava. Rezei, pedi, implorei para que tudo não passasse de um susto.
Faltavam dois dias para repatir a ecografia. Dois dias! 48 horas, com trabalho pelo meio. E se a porcaria do edema se mantivesse? E se o bebe tivesse mesmo uma malformação e não fosse viável o seu nascimento? Tudo me passou pela cabeça naqueles dois dias...
(...)
Bia.
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